quarta-feira, 10 de março de 2010

Não tussa ou espirre. Evite constrangimentos!


Metrô lotado, assentos ocupados, pessoas em pé empurrando-se para conseguir um lugarzinho, gente debruçada nos corrimões, indivíduos encostados nas portas, enfim, gente pra todos os lados. Isso, de fato, contraria aquela lei da física que diz que objetos não podem ocupar o mesmo espaço, no mesmo intervalo de tempo. Acho que é isso, ou alguma coisa assim. Seria uma cena típica diária, principalmente em horários de pico, se não fosse um detalhe que, atualmente, tem deixado a população em pânico: a gripe suína.
Seria cômica, se não fosse preocupante a situação que presenciei. Estava eu lá metrô, sentada ao lado da janela, com meu IPOD de última geração, nesta quinta-feira. Mais um dia de trabalho, mais um dia de estresse, o patrão chato, gente enchendo o saco, problemas, amolações. Enfim, nada anormal. O metrô? Há! Estava "daquele jeito", a maioria das pessoas caladas, outras dormindo, umas lendo e cada uma imersa em seu próprio pensamento. Uma cena, como pode ver, corriqueira. Tão comum até que duas mocinhas, que deviam ter por volta dos vinte e cinco anos, começaram, freneticamente, a tossir e a espirrar.
Imagine a situação: o metrô já estava insuportavelmente cheio, apertado e, depois da 'crise' das moças, piorou. Era gente tentando mudar de lugar, era um empurra-empurra, gente indo pra um lado, gente indo para o outro. Todo mundo escancarando as janelas, inúmeras pessoas enfiando a cara dentro da gola da blusa e muitas virando o rosto, temerosas. Teve até uma madame, dessas dondocas que passam o dia a atazanar a paciência dos outros, que pegou seu cachecol, botou sobre o nariz e a boca e começou a reclamar, dizendo que era uma vergonha o transporte público. "Como que o governo não toma providência e deixa pessoas doentes frequentarem o mesmo lugar dos demais?", gritava a senhora para quem quisesse ouvir. O que era pra ser um dia comum, transformou-se num caos total.
Tudo isso por medo de as jovens mulheres estarem com a famosa Gripe A. Coitadas. Deu dó. "Não é suína não, gente", berrou uma delas. Mas quem ouviu? O fato é que ninguém deu ideia, os que estavam perto delas, afastaram-se, sem titubear. A situação foi constrangedora. Eu fiquei sem graça só de ver. Pobrezinhas, já não se pode mais tossir e espirrar nos dias de hoje. Eu devia era ter levantado e começado um discurso. "Que isso, gente, onde já se viu? Não se pode ficar gripado mais não, é? Qualquer pessoa que tossir ou espirrar agora vai ser tachada de doente e tratada como um animal?", entretanto permaneci onde estava. Imóvel. Muda.
Uma coisa que percebi foi que, apesar desse alvoroço todo, nem todas as pessoas tomavam os cuidados necessários. Ao invés de ficarem correndo pra lá e pra cá, com medo de pegarem a epidemia, poderiam evitar tocar em locais onde as moças haviam levado as mãos. Mas elas pareciam nem pensar nisso. Isso foi me deixando ainda mais indignada. Acho que as mídias têm apavorado muito a população, as pessoas estão ficando paranóicas com a HIN1. Durante todo o trajeto, fiquei pensando na situação. O metrô, assim que as mulheres desceram, voltou ao seu silêncio normal e modorrento. E, em cada estação, aquela voz automática e decorada de uma mulher dizia: ""Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma". Daí parei e pensei: Será que, daqui pra frente, serão acrescentados os dizeres "Não tussa ou espirre. Evite constrangimentos"?

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